CRENÇA DE AUTOEFICÁCIA, MECANISMO CIRCUNDANTE AO PROCESSO DE AUTOESTIMA EM PESSOA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA ADQUIRIDA NA FASE ADULTA: UM ESTUDO DE CASO.
1. Ângela Maria Pereira Capilé da Silva.
2.Ivan Guarachi.
RESUMO: A relação da crença de autoeficácia no processo de construção da autoestima em pessoa que adquiriu deficiência física na fase adulta está relacionada com o tratamento que é dispensado ao deficiente. Comportamentos, cognições e habilidades sociais podem ser reinventados e aperfeiçoados. A ideia de que, no pós-trauma, o enfrentamento das mudanças físicas, sociais, econômicas e, consequentemente, laborais são obstáculos ao desenvolvimento normal foi desmistificada. O objetivo deste artigo é analisar a relação de crença de autoeficácia no processo de construção da autoestima em pessoa que adquiriu deficiência física na fase adulta e justifica-se pelo conhecimento que se espera do estudo de caso, de valor único e próprio, começando pela coleta de dados até a análise do fenômeno observado. Participaram da pesquisa dois paraplégicos, sendo um do sexo masculino, e um do sexo feminino; e um terceiro, do sexo feminino, com duas deficiências (antebraço direito e mama direita), todos estão deficientes a mais de três anos.
PALAVRAS-CHAVE: Crença de autoeficácia – Autoestima – Deficiência física adquirida – Adultez.
ABSTRACT: The relationshipofself-efficacybeliefin the process ofbuildingself-esteeminpeoplewho acquireddisabilityin adulthoodis associatedwith thetreatment givento thepoor. Behaviors, cognitionsandsocial skillscan bereinventedand improved. The idea that, in the post-trauma, coping withphysical changes, social, economic,and hencelaborare obstacles tonormal developmentwasdemystified. The objective of thispaper is to analyzethe relationshipofself-efficacybeliefin the process ofbuildingself-esteeminpeoplewho acquireddisabilityin adulthoodandis justified by theknowledgeexpected of thecase study, andownunique value, starting with thecollectiondatato theanalysisof the phenomenon observed. Participants weretwoparaplegics,one maleandone female, and a third, female, with twodeficiencies(right forearm andright breast),all aredisabledfor more thanthree years.
KEYWORDS:Beliefinself-efficacy-Self-Esteem-Physical disabilityacquired-Adulthood.
INTRODUÇÃO
A deficiência física adquirida (decorrente depois do nascimento), além de causar sofrimento psíquico, causa uma mudança brusca na imagem corporal da pessoa. De um instante para o outro ela se vê com a imagem corporal alterada, e em vista disso precisa reestruturá-la.
O processo de reabilitação e desenvolvimento cognitivo inclui tarefas difíceis como a de incorporar a cadeira de rodas ou a prótese a sua imagem e aprender a interagir com pessoas que não possuem deficiência física. Sua construção deve respeitar essa nova condição.
Para readaptação, autoaceitação e aceitação por parte da sociedade, não basta a pessoa com deficiência adquirida contar com sofisticados equipamentos ou boas condições financeiras, ela necessita acreditar nas suas potencialidades.
Frente a essas informações, a pesquisadora buscou comprovar a hipótese de que uma das crenças que circundam esse processo é a crença de autoeficácia, que é o mecanismo capaz (suficiente) de levar a pessoa com deficiência adquirida na fase adulta a ter boa autoestima, é mecanismo que supera eventos incapacitantes e geram boa autoestima.
Os fatores cognitivos em torno das crenças de autoeficácia operam independente das situações contextuais no caso de deficiência adquirida na fase adulta.Comportamentos, cognições e habilidades sociais podem ser reinventados em um processo de melhoria da autoestima em pessoas com deficiência adquirida na fase adulta.
Segundo Santos e Souza (2012), deficiência na maioria das vezes é visualizada como ponto principal de condição de incapacidade, quando na realidade não o é. Ser deficiente físico não quer dizer que essa pessoa seja incapaz em todos os segmentos da vida.
O objetivo geral deste artigo é analisar a relação de crença de autoeficácia no processo de construção da autoestima em pessoa que adquiriu deficiência física na fase adulta.
E para embasar esse objetivo surgem os objetivos específicos que investigaram o grau de autoeficácia e a estrutura cognitiva envolvidos na autoestima de pessoa que adquiriu deficiência física na fase adulta, averiguar como a crença de autoeficácia contribui para alteração dos fatores biopsicossociais da pessoa com deficiência adquirida na fase adulta e identificar quais comportamentos foram possivelmente alterados com a aquisição da deficiência e como eles influenciaram na autoestima.
Este artigo justifica-se pelo conhecimento que se espera do estudo de caso, de valor único e próprio, começando pela coleta de dados até a análise do fenômeno observado.
Nisbett e Watt (1978) sugerem que o estudo de caso seja entendido como “uma investigação sistemática de uma instância específica” e estapesquisa visa trazer informações sobre o esquema e a autoeficácia como mecanismos desencadeadores da autoestima (alta ou baixa) em pessoa com deficiência adquirida na fase adulta, coletando informações, relatos, dados e observações.
Um estudo de caso é utilizado como veículo para a compreensão e verificação de aspectos do comportamento humano a ser estudado no indivíduo com deficiência adquirida na fase adulta e visa contribuir com estudos de Psicologia Cognitiva Comportamental.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Segundo Doron e Parot (2007), deficiência é fato ou sentimento de que um órgão está funcionando aquém do esperado. Objetiva ou subjetivamente, a deficiência se distingue do déficit, cujas conotações etiológicas são mais radicais e as implicações mais perigosas.
O conceito que se tem de deficiência é relativo às normas de uso, nível de desenvolvimento e a capacidade de tolerância do grupo a que pertence o indivíduo. Geralmente, distingue-se deficiência em grupos:
a) deficiência sensorial;
b) deficiência motora;
c) deficiência mental;
d) Deficiência resultante de doença crônica;
Relativamente à intensidade, pode se classificar como deficiência leve, média ou moderada e grave ou profunda.
A InternationalClassificationofimpairments, desabilitiesandhandcaps (ICDH), sendo sua tradução Classificação internacional de deficiências, incapacidades e desvantagens, considera as deficiências como manifestações agudas, segundo o modelo médico.
No Brasil, a Previdência Social, por meio do Decreto n. 3048, Capítulo I, artigo 3º, no seu Regulamento acresce a deferência permanente, distinguindo-a como “aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probidade que se altere apesar dos novos tratamentos” e por meio do Decreto nº 5.296, de 2004, da Presidência da República, artigo 5º, detalhe e enumera categorias de deficiência física (D.O.U.- 03/12/04, P. 5).
[...]
§1º Considera-se, para os efeitos deste Decreto:
I - pessoa portadora de deficiência, além daquelas previstas na Lei no 10.690, de 16 de junho de 2003 , a que possui limitação ou incapacidade para o desempenho de atividade e se enquadra nas seguintes categorias:
a) deficiência física: alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções;
b) deficiência auditiva: perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz;
c) deficiência visual: cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60º; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores.
d) deficiência mental: funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, [...].(Decreto nº 5.296)
Corroborando esses entendimentos, o CID 10, assim como a OMS, entende que deficiência física é a restrição da capacidade motora, mental ou sensorial, definição legal de deficiente físico.
Nesse cenário de deficiência, aparecem as crenças, que são ideias e percepções, absolutas e verdadeiras, da pessoa, segundo o seu ponto de vista. São formadas a partir da ótica que a pessoa tem de si e do mundo que a cerca. Por meio de nossas crenças é que olhamos para as situações da vida.
As crenças têm origem em muitas fontes, como por exemplo, na nossa educação, no exemplo de pessoas que marcaram nossas vidas, por traumas passados, experiências repetidas e também pela cultura onde vivemos ou trabalhamos.
Ao estabelecermos crenças, adquirimos níveis de pensamentos que poderão reforçar as crenças que os originam e essas crenças tendem a repetir-se. Crenças são divididas em central e intermediária.
Desde a infância, é possível desenvolver ideias negativas, distorcidas da realidade, equivocadas pela percepção que temos sobre os eventos da vida. Tais ideias são fixadas em nossa mente e incorporadas como verdades absolutas, causando sofrimento psíquico. As crenças centrais podem ser, DESAMOR e DESVALOR. Segundo Rangé, apud Alvarenga e Souza:
[...]
As crenças centrais constituem o nível mais profundo da estrutura cognitiva e são compostas por ideias absolutistas, rígidas e globais que um indivíduo tem sobre si mesmo. São ideias e conceitos a respeito de nós mesmos, das pessoas e do mundo. São aceitas passivamente, sem grandes questionamentos, são mantidas e reforçadas sistematicamente. (RANGÉ, 2001).
As crenças intermediárias estão relacionadas a vários aspectos da vida que funcionam como pano de fundo para atitudes e regras. Elas são mais flexíveis, portanto de mais fácil tratamento que as crenças centrais. Apesar dessa diferença, elas se conectam com as crenças centrais e existem seguindo a "lógica" destas últimas.
Segundo Bandura, a crença de “autoeficácia é um julgamento sobre a própria capacidade de conseguir um bom desempenho ou resultado, uma sensação de adequação e eficiência em tratar dos problemas da vida” e capacidade de administrarsituações adversas na vida.
Superar obstáculos, buscar desafios e manter um bom nível de confiança na própria capacidade é a meta de pessoas com crença de autoeficácia, o que não acontece com pessoas de baixa autoeficácia, pois se sentem incapazes de realizar alguma coisa mais específica e muitas vezes desistem de tentar resolver os problemas quando as circunstancias os levam ao fracasso.
Para Bandura (1986), os julgamentos de autoeficácia atuam como mediadores entre as reais capacidades, que são as aptidões, conhecimentos e habilidades, e o resultado obtido. Esses fatores, por si sós, não produzirão resultados esperados, a menos que ocorra a mediação da crença de autoeficácia.
Relativamente à forma como se desenvolve a autoeficácia, Bandura menciona que ambientes proporcionam oportunidades para adquirir experiência e percepção de autoeficácia. Nesse aspecto, a família é o marco principal na aprendizagem de autoeficácia; seguido da escola como ambiente básico para a manutenção e validação social desta.
Outro fator importante a considerar são as fases da vida, adolescência e vida adulta, nas quais os desafios e redefinições de metas e projetos dependem do senso desta. Para as pessoas que possuem autoeficácia baixa, Bandura recomenda três passos:
1. Trabalhar a auto-observação - conhecer-se e ter certeza de ter uma visão exata de seu comportamento;
2. Trabalhar os padrões - certificar-se de que os padrões que a pessoa estabeleceu não sejam inatingíveis. Não se destinar ao fracasso. Padrões muitos baixos também não têm sentido;
3. Trabalhar a auto resposta – não se castigar. Celebrar as vitórias e não se perder sobre os fracassos. Portanto, quanto maior a autoeficácia maior o esforço e a persistência. E nas situações de escolha, a autoeficácia influi na decisão de fazer ou não alguma coisa. Quanto à produção do comportamento, afeta a motivação, mas não cria novas habilidades.
Atrelada à autoeficácia está a autoestima, postura que cada pessoa tem em relação a si mesma, compreende os aspectos cognitivo, emotivo e comportamental. Esses aspectos englobam vida afetiva e social, profissão, moralidade, como são sentidos os conflitos e confrontos, tais como hostilidade, afeto e discriminações, bem como o comportamento diante da satisfação de suas necessidades básicas.
A autoestima pode ser construída como uma característica permanente de personalidade (traço de autoestima) ou como uma condição psicológica temporária (estado de autoestima).
METODOLOGIA
Os instrumentos de pesquisa para desenvolvimento deste artigo foram as entrevistas semiestruturadas, protocolo de autoeficácia, registro diário de pensamento disfuncional e análise do pensamento.
A entrevista é o instrumento adequado para se obter dados necessários para o desenvolvimento de projeto de pesquisa e checagem das hipóteses, pela riqueza de informações que ela proporciona ao trabalho. As entrevistas foram aplicadas nos termos do que preconiza GIL, 1999:
[...] técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que interessam à investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de interação social. Mais especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação. (GIL, 1999, p. 117).
A técnica de Registro Diário de Pensamento Disfuncional tem a função de incentivar o a pessoa humana a reconhecer pensamentos automáticos disfuncionais, erros cognitivos, observar evidências e gerar possíveis alternativas racionais.Esta técnica leva também a pessoa a observar os resultados de seus esforços para mudar pensamentos disfuncionais em pensamentos funcionais.
Este artigo destina-se a expor uma abordagem compreensiva e interpretativa, por meio da Psicologia Cognitiva Comportamental.
O método científico utilizado foi o hipotético-dedutivo, com ênfase na descrição de relatos, e por não se tratar de um estudo de coleta de dados somente escritos, e nem de dados manipuláveis, optou-se pelo direcionamento de um estudo de caso para a realização da pesquisa acerca do esquema e autoeficácia e suas relações com a autoestima.
O estudo de caso, por meio da descrição, permitirá atermo-nos em um aspecto ou situação específica e identificar aspectos da autoestima, tendo em vista que são descrições detalhadas de indivíduos ou eventos. O sujeito estudado pode ser, nessa abordagem, intensamente entrevistado, bem como analisados aspectos do comportamento.
A coleta de dados consistiu em entrevistas (semiestruturadas), observações cognitivas comportamentais do indivíduo, por meio da análise do pensamento.
A pesquisa foi desenvolvida respeitando às normas éticas, bem como, se necessário, ser submetida ao crivo do comitê de ética da ILES/ULBRA. Os participantes deste estudo receberam um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TECLE), os quais foram devidamente assinados por seus destinatários e responsáveis. No termo constam os aspectos relativos ao estudo, tais como, objetivo, caráter de voluntariedade da participação de tais entes para aderir e/ou sair do estudo, benefícios e possíveis riscos, procedimentos de avaliação, procedimentos, entre outros.
PESQUISA
Participaram da pesquisa dois paraplégicos, sendo um do sexo masculino, e um do sexo feminino; e um terceiro, do sexo feminino, com duas deficiências (antebraço direito e mama direita).
A entrevistada I, sexo feminino, funcionária pública estadual, nível superior, casada, deficiente há trinta e um anos, ao ficar deficiente pela primeira vez, quando da amputação do antebraço, aos 17 anos, diz ter se sentido inútil, pois lhe tiraram a possibilidade de experienciar situações novas.
[...] “não me deixavam fazer nada...o que fiz foi estudar mais.”
“...fiz prova oral e três meses depois a nota foi melhor...”
“Pensei que tinha parado tudo...não sabia como ia trabalhar. Queriam que eu fosse médica, mas não sabia como operar...
[...] “Só fui melhorar isso daí quando comecei trabalhar, ainda não tinha superado tudo”.(sic)
Após a segunda mutilação, há 5 meses, é possível observar que a superação aconteceu de forma eficiente, pois o senso de autoeficácia já havia sido instalado anteriormente. A autoestima dessa entrevistada demonstra-se elevada:
[...]
“eu até casei..rsrsrsrs ”trabalhei 25 anos, nunca cheguei atrasada.” ... ”quando eu soube da doença, carcinoma de seio, fiquei tranquila, mas olhar no espelho é um choque.
“senti apoio do marido, não tive dúvida dele em nenhum momento”.
“ Filhos eu não tive por que achei que não dava conta ...” (sic)
O entrevistado II, sexo masculino, 21 anos, solteiro, desempregado, cursando nível médio, mora com os pais, deficiente há três anos, absteve-se de falar muito. Preferiu omitir detalhes da vida cotidiana e funções cognitivas pós-trauma, mantendo-se inerte.
Alguns autores afirmam que a incapacidade de falar pode ter vários significados como ficar paralisado pela ansiedade, esquecer-se de algo, entre outros.
Na análise semântica (CHARADEAU & MAINGUENEAU, 2004) o medo é a crença na avaliação negativa que pode ser mais facilmente desafiada e testada.
Nas parcas falas, foi possível observar a baixa autoestima e a descrença na capacidade de retomar os afazeres da vida:“eu penso em me matar todo dia, já tentei duas vezes” ‘pensei que tinha acabado tudo...” “sou frio, não tenho sentimento. ..acho melhor morrer. (sic).
A entrevistada III, sexo feminino, descasada, funcionária pública municipal, nível superior, mora sozinha, deficiente há vinte oito anos, foi sutil em afirmar que os cuidados iniciais com o deficiente, em fase adulta, são a mola propulsora para adaptaçãoe desenvolvimento do senso de autoeficácia, senão vejamos:
“...eu estava na zona de conforto, não queria me vestir sozinha...estava querendo chamar atenção...sem brinco, sem batom, sem perfume... a internação fora do estado foi uma escola da vida.”
[...] recebi treinamento na piscina..fui jogada. Depois disso vi que não mudou nada, o que mudou foi a forma de nadar.” (sic)
Corroborando com esse relato, ela menciona que: “O primeiro pensamento foi... acabou tudo.. não sou mais sexy, não tenho mais bumbum... não me via atraente”.(sic)
Em fase posterior, a mesma entrevistada reconhece que “estava na zona de conforto, não queria me vestir sozinha... estava querendo chamar atenção... sem brinco, sem batom, sem perfume... a internação fora foi uma escola da vida.”. “O pensamento era eu não sou mais atraente, as pessoas não querem saber do cérebro, querem saber da beleza.” (sic)
A entrevistada III foi sutil em afirmar que os cuidados iniciais com o deficiente, em fase adulta, são a mola propulsora para adaptaçãoe desenvolvimento do senso de autoeficácia.
Relativamente ao protocolo de autoeficácia, os entrevistados I e III desta pesquisa mantiveram coerência entre as respostas e a expressão do pensamento, porém o entrevistado II se contradisse em 80 das respostas, afirmando, por exemplo, ser para tranquilo persistir em seus objetivos e poder resolver a maioria dos problemas, após ter mencionado “o que eu tinha pra curtir, eu já curti... eu penso em me matar todo dia (sic).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estar bem, querer viver é uma estratégia subjetiva que leva à boa autoestima e depende da avaliação que a pessoa faz sobre sua própria vida. Essa avaliação pode ser feita mediante a possibilidade ou impossibilidade de realizar funções, nas quais estão incluídos estados agradáveis e desagradáveis e a busca de equilíbrio entre eles.
Os as pessoas quando fazem julgamentos em relação a si próprios utilizam termos vagos, generalistas e absolutistas. Isso faz com que não percebam os comportamentos que geram resultados desagradáveis, porém ao recuperarem a autoestima são capazes de um novo repertório de comportamentos mais socialmente adaptados, isto é, a capacidade de emitir respostas eficazes e adequadas a situações específicas: “comecei a enxergar que quase tudo é possível. “...meu chefe era exigente e não fazia distinção para minha deficiência”. (sic)
Por meio de entrevistas semiestruturada, deduziu-se que o indivíduo com deficiência adquirida na fase adulta vivenciaram experiências polares. Fatores como protecionismo exagerado e falta de condições financeiras indicaram a maneira como os entrevistados enfrentam tais pressões.
Estressores, no transcorrer do curso de vida, determinaram sua capacidade de adaptação e recuperação; em outras palavras, sua resiliência, como enfatiza Bandura (1986) “ o bem-estar e as realizações humanas requerem senso de eficácia resiliente, pois o cotidiano interpõe vários obstáculos ao indivíduo”.
Para os entrevistados I e III, no pós-trauma, onde não houve superproteção, o enfrentamento das mudanças físicas, sociais, econômicas e, consequentemente, laborais, não foram obstáculos ao desenvolvimento normal.
O constructo autoeficácia possibilitou a esses entrevistados executar tarefas básicas e diárias, com significância quase imperceptível para os não deficientes, mas de fundamental importância para os amputados, conforme relato da entrevistada I: “esse chefe foi divisor de águas na minha vida... Eu não sabia que era inteligente e ele me mostrou.” (sic).
O entrevistado número II registra em entrevista a baixa autoestima e os sinais depressivos ao falar de seus planos para o futuro, ou seja pensamentos de morte e de não restar nada mais para fazer.
Esta pesquisa atingiu seu objetivo ao analisar a relação de crença de autoeficácia com a boa autoestima, bem como que pessoas com senso de autoeficácia conseguem ter boa estrutura cognitiva e vida social ativa.
No mesmo contexto, as hipóteses foram comprovadas, exceto no que se refere a fatores cognitivos em torno da autoeficácia operarem independentemente de situações contextuais, pois como relata a entrevistada I, foi necessário ser jogada na piscina para perceber que tinha condições de aprender a nadar mesmo sendo deficiente.
Não se pode defender que as crenças de autoeficácia sejam o único fator a influenciar o desempenho e nem que seja o fator mais importante para a motivação. Além disso, as crenças de autoeficácia não suprem lacunas de conhecimentos ou habilidades ou a ausência de capacidade real, mas é possível verificar que quem tem senso de autoeficácia é capaz de se relacionar bem consigo próprio e com os outros.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Acrescente-se na bibliografia
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APÊNDICE
ROTEIRO PARA ENTREVISTA
Caso nº_________.
1. Idade: _________________________________________________________
2. Profissão:_________________________________________________________
3. Grau de escolaridade: _______________________________________________
4. Quantas pessoas compõe a família: ____________________________________
5. Na ordem de nascimento dos filhos, que número você ocupa: ________________
6. Tipo de moradia: ___________________________________________________
7. Que tipo de deficiência vocêpossui: ____________________________________
8. Antes da deficiência, como era a suarotina: _____________________________
9. Como foi o período pós-trauma (logo após adquirir a deficiência: ___________________________________________________________________
10. Que atividades, após a deficiência, você deixou de realizar: ___________________________________________________________________
11. Que tipo de assistência você teve para readaptação de suas funções: ___________________________________________________________________
12. Hoje, você sente dificuldade em desempenhar alguma função?
( ) sim ( ) não
13. Quais? __________________________________________________________
14. Que barreiras você enfrenta após a deficiência?
___________________________________________________________________
15. Como você se sente em relação à vida?
___________________________________________________________________
16. Quais seus planos para o futuro?
___________________________________________________________________
ESCALA DE AUTOPERCEPÇÃO DE AUTOEFICÁCIA
Este questionário tem como objetivo avaliar o quanto você se sente capaz de lidar com as dificuldades do seu dia-a-dia.
Leia com atenção cada afirmativa e circule a sua opção de acordo com a escala abaixo:
1 |
2 |
3 |
4 |
Não verdadeiro
|
Pouco verdadeiro |
verdadeiro
|
Totalmente verdadeiro
|
1.
Sempre posso resolver os problemas difíceis se me empenhar bastante. |
12 3 4
|
2.
Se alguém se opõe a mim, eu posso encontrar a maneira de obter o que quero. |
12 3 4
|
3.
É tranquilo para eu persistir em meus objetivos até alcançar as minhas metas. |
12 3 4
|
4.
Estou seguro de que eu poderia lidar de maneira eficiente com eventos inesperados |
12 3 4
|
5
Graças às minhas qualidades e talento, posso superar situações imprevistas |
12 3 4
|
6.
Posso resolver a maioria dos problemas, se me esforço o necessário. |
12 3 4
|
7.
Posso permanecer calmo(a) quando enfrento dificuldades, porque confio no meu jogo de cintura. |
12 3 4
|
8.
Quando enfrento uma situação difícil, geralmente eu tenho ideia do que devo fazer. |
12 3 4
|
9.
Venha o que vier, geralmente sou capaz de lidar com isto. |
12 3 4 |
10.
Quando tenho um problema pela frente, geralmente me ocorrem várias alternativas de como resolvê-lo. |
12 3 4
|