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PSICO-ONCOLOGIA E PSICANALISE

 

RESUMO:

O presente trabalho tem por escopo analisar a articulação da psicanálise com a psico-oncologia, numa abordagem teórica destas linhas de conhecimento. A princípio se fará uma conceituação dos campos teóricos das duas abordagem numa junção com a psicologia da saúde, pertinentes à tríade paciente-família-equipe. Após, será discutido a elaboração da dor pós diagnóstico de câncer e, as possíveis modificações nos planos de vida, no que diz respeito às angústias e afetos envolvidos quando pode ser eminente perder a vida.

Palavras –chave:

Câncer. Paciente. Oncologia. Psicolo-oncologia. Psicanálise.

 

1. Introdução

A Psicanálise e a Medicina estão articuladas historicamente e também de forma prática, a Psicanálise continua em função do inconsciente, investigação da mente numa atividade terapêutica; e a medicina, esta trata o corpo, a patologia somática, dando ênfase a relação mente-corpo, e a explicação psicológica dos sintomas corporais e doenças.

O psicanalista e o médico são verdadeiros arquitetos de uma medicina integral e humanista, e esta área do conhecimento, situada entre a mente e o corpo, e nas relações interpessoais que se ocupa a psicanálise na saúde, na área da medicina.

A psicanálise com seu construto teórico fundamental: o inconsciente influenciou enormemente a cultura do sec. XX e continua no século em curso, e do inconsciente, derivou a noção do processo primário, da função onírica, da fantasia, da pulsão, dos desejos, do recalque, das defesas.

Ao passar dos anos, a psicanálise, sua pesquisa também de forma progressiva mudaram de curso em seus primórdios estudava as doenças, hoje se está muito comprometido com o indivíduo e a identidade, a compreensão do sofrimento.

Em especial ocupo-me aqui do enfoque em oncologia, e ao cuidado psicoterápico do paciente com câncer. A medicina trata a enfermidade na ótica médica, e de laboratório, exames e tratamento; a psico-oncologia ,em particular pretende escutar, compreender o sujeito, sua enfermidade e sofrimento.

2. Interdisciplinaridade

Com o auxílio interdisciplinaridade entre os saberes é possível dar um novo olhar a dor e as incertezas dos pacientes diagnosticados com CA. Encontramos em Gimenes a anteparo para traçar a linha de atuação da psico-oncologia e a psicologia da saúde. A autora escreve que há uma interface entre as duas correntes , a ponto dessa relação ser vista nos entornos de:

1 - na assistência ao paciente oncológico, sua família e profissionais de saúde envolvidos com a prevenção, o tratamento, a reabilitação e a fase terminal da doença;

2 - na pesquisa e no estudo de variáveis psicológicas e sociais relevantes para a compreensão da incidência, da recuperação e do tempo de sobrevida após o diagnóstico do câncer;

3 - na organização de serviços oncológicos que visem ao atendimento integral do paciente, enfatizando de modo especial a formação e o aprimoramento dos profissionais da saúde envolvidos nas diferentes etapas do tratamento (GIMENES, 2003, p.46-47).

Não há como falar de psico-oncologia sem antes falar de psicologia da saúde, pelo campo de conhecimento emprestado dessa, àquela abordagem psicológica do homem e, essa associando-se aos saberes psicanalíticos, eis que esta nos permite a compreensão das exigências da realidade e a subjetividade do sujeito num mecanismo de defesa para evitar o desprazer, visto que a angústia do desamparo é universal, inerente a todo ser humano. A angústia é uma tentativa de elaboração do mal estar, por isso o sintoma sai de um lugar para o outro, na busca de uma elaboração.

 

3. Câncer

O câncer é uma das doenças que mais causam morte no século XXI, não escolhe cor, raça, ou idade ou classe social. O câncer é originário de células com má formação que causam tumores e atacam órgãos do corpo humano. Devido à rápida proliferação dessas células ocorre a metástase, momento em que o câncer migra para outras partes do corpo, que não aquele em que se originou.

O tumor pode ser benignos ou malignos, significa que nem todo tumor é canceroso. Inexiste uma única explicação para o surgimento desses tumores, teóricos acreditam que sua origem atrela-se a causas genéticas, comportamentais ou psicológicas.

Sabe-se, contudo que o stress, em qualquer quadro patológico, afeta o sistema imunológico e, baixa as defesas do organismo, diminuindo as resistências e propiciando o aparecimento de quadro patológicos.

Detectado o grau de malignidade do câncer, passa-se ao prognóstico e define-se o tratamento. Ressalta-se que o diagnóstico precoce é primordial para não evolução da doença e a melhor com o tratamento, que, em regra, são invasivos.

Estudos e pesquisas têm avançado no tratamento e recuperação dos pacientes oncológicos. Entretanto, o avanço da medicina ainda não chegou ao ponto de evitar o sofrimento emocional do paciente e seus familiares frente á doença.

Sabe-se que o quadro emocional melancólico afeta o tratamento, sabe-se também que por ser uma doença com grande índice de mortalidade, o medo é comum ao paciente oncológico.

Diante destas considerações, a psico-oncologia surge para estudar esse processo de adoecimento do corpo frente as variações físicas e emocionais que acometem o paciente oncológico.

A psico-oncologia surge nos EUA, após a constatação de que havia interferência de fatores comportamentais e psicológicos na etiologia e desenvolvimento do câncer, considerando que o entendimento das causas é primordial para a prevenção. Há causalidade que são inevitáveis, tais como fatores genéticos e ambientais. Em relação aos fatores psíquicos, estes são inerentes à condição humana, eis não há como fazer uma omelete sem quebrar ovos, assim como não se pode viver sem sujeitar a conflitos emocionais.

Neste sentido escreve Holland (1990, 11):

uma subespecialidade da Oncologia, que procura estudar as duas dimensões psicológicas presentes no diagnóstico do câncer: 1) o impacto do câncer no funcionamento emocional do paciente, sua família e profissionais de saúde envolvidos em seu tratamento; 2) o papel das variáveis psicológicas e comportamentais na incidência e na sobrevivência ao câncer.

Sendo uma doença multifatorial, seu tratamento não poderia se dar de outra forma, há necessidade de trabalho multidisciplinar na acompanhamento do portador de CA. Pautado nesse pensamento, a psico-oncologia tem por escopo a aplicação de conhecimentos técnicos que propiciem a manutenção da saúde e o apoio emocional necessário para enfretamento da enfermidade.

 

4. Psico-oncologia-Psicanálise

O esteio emocional é fundamental para compreensão e interpretação da patologia, além de possibilitar a significação da relação saúde/doença.

É nesse momento que a psicanálise se depara com uma condição sine qua-non ao indivíduo, que fere a sua condição narcísica ao receber o diagnóstico de câncer, pois coloca frente a frente com a realidade da doença oncológica. Muitas vezes resistências são criadas, é difícil compreender, aceitar, aderir e uma terapêutica tão igualmente densa, dolorosa.

Na saúde, na enfermidade e na morte a quem rogar e interrogar? Estamos trazendo a nós o que estava distante, do lado de fora. Saímos da condição cômoda e tranquila, e entramos no pesar do risco.

Zago (2001) afirma que o diagnóstico é uma catástrofe para qualquer família, eis que as transformações no corpo emocional e estrutural dessa entidade é sentida nas alterações de rotina dos seus membros.

Aprender a conviver com essa nova realidade que inclui enfermidade crônica, cura e morte difere no que é pensado e articulado no indivíduo, sua família e equipe assistencial.

Atualmente o tratamento do tumor é profundamente agressivos para a parte orgânica, funcional e em especial para fantasia e a significação sócio afetiva diante de si mesmo e dos outros, considerando o aspecto, a face , a voz, os cabelos, os órgãos sexuais, dentre outros.

O fato é que além de viver o luto por esta perda, o indivíduo lida com a exigência de aceitar as modificações e mudanças de sua imagem e do esquema corporal.

O paciente com câncer vive com a certeza da incerteza, há a permanente ameaça da recidiva ou da metástase, ameaça essa projetada claramente à partir da realidade que o cerca. Esse desconforto, mal-estar permanente implica em anos para ser controlado, e acrescido pelo medo da dor, do isolamento, do sofrimento, observamos ainda que gratuitamente a todos esses fatores e circunstancias mais agressivo ainda para o paciente é a modificação do comportamento das atitudes daqueles próximos em relação a ele, muitas vezes agressivos, ou indiferentes, universo emocional difícil de lidar e evitar por parte do doente.

Após tudo quanto exposto, entendemos ser impossível depreender que um paciente com câncer comporte-se como se nada de sinistro, ou simplório tenha ocorrido, daí aludirmos que para a eficácia de uma assistência psicoterápica, o psicanalista, ou psicólogo comece por reconhecer que doravante tudo é diferente, desta forma poderá readequar o paciente e seus familiares.

A que se ter em mente, primeiramente que, estando diante de uma instituição, onde impera o discurso médico, no qual o homem não interesse a medicina, a importância reside na doença, como escreve Coutinho Jorge " o médico não se refere ao doente, mas ao futuro homem são" (1988, p. 46). O homem, para o médico é visto como homem + doença.

A psicanalise rompe com o discurso médico e vê apenas o sujeito, escuta esse sujeito sem preconceitos, dito de outra forma, sem um prévio saber. Associa sua fala livremente, não compreendendo, mas interpretando o modo pelo qual surge a verdade do sujeito/paciente.

O tratamento de um câncer é sem sombra de dúvida evasivo (quimioterapia, radioterapia), e quando da cirurgia, o trauma psicológico decorrente foi uma das vias de acesso para que se reconheça a situação emocional do paciente. A cirurgia nos pacientes com câncer tem um componente emocional nitidamente maior do que em outras afecções. Médicos, pacientes e familiares podem ter uma ótica e /ou expectativas diferentes, cada um interpreta e compreende a seu modo. Por exemplo, o que um médico cirurgião referende como sendo de grande êxito, para pacientes e familiares pode ser tido como suspeição, algo cético, e até questionado para que grande complexidade - para que tudo isso se vai morrer de qualquer forma? (verbalização de um familiar)

Cada paciente tem uma história de vida, sua biografia, ambiência psicossocial. Portanto, a doença e o tratamento representam uma marca, ou um acréscimo a essa história, assim sendo a cirurgia realizada não esta em separado dessa história mais juntada a ela, e a resposta psicológica é singular, pessoal, ímpar a cada um.

As diferentes estruturas orgânicas do indivíduo, suas funções reais tem seus significados psíquicos e socioculturais, é o que constitui sua imagem e esquema corporal que facilita sua organização no mundo e reconhecimento como humano, assim sendo a mama, o estômago, o esfíncter retal, o pulmão, dentre outros órgãos, integram o soma (corpo) que são imagens mentais, e se pelo câncer ou por seu tratamento for afetado, ou ter o órgão ou função perdida ocorre uma "fratura" na capacidade de adaptação física e emocional do indivíduo, em especial temida pelas exigências socioculturais reais, ou supostas.

Rupturas que acarretam graves transtornos psicológicos vivenciados como lutos. Daí a compreensão de quadros de angústias frequentes frente a cirurgia para o câncer, e a reação depressiva pós-operatória, que reflete na qualidade de vida do sujeito, seja quanto seja sua imunologia, como de sua integração social.

A etiologia do câncer até o presente constitui um enigma para o conhecimento científico, embora sejam admitidas fatores de riscos, de acordo com estudos epistemológicos podem favorecer o surgimento da doença, ainda não se descobriu um fator comum a todas as formações neoplásicas malignas que possa ser tomado como elemento casual da doença, mas não podemos esquecer que a busca desse elemento por outro lado retira do sujeito a responsabilidade frente a sua queixa, excluindo o mesmo, depositando mérito puramente a uma possibilidade organicista da ciência médica, e , é nesse lugar, nessa lacuna em aberto pela ciência quanto ao adoecimento oncológico que acreditamos ser o campo de intervir do psicanalista.

O sujeito acredita ser o casual a doença, e os médicos e profissionais da saúde a que atribuem seu desenvolvimento? que ligações e parênteses simbólico- imaginários o sujeito cria para lidar com a doença real, em outras palavras quais suas fantasias. Em muitos relatos de pacientes oncológicos, verbalizações atribuem ao humor, personalidade da pessoa, seus afetos, como sendo a matéria-prima da doença. Referem a contrariedade, ansiedade, tristeza, "stress", frustrações ao longo da vida, nesse sentido o câncer ocupa o lugar da personificação da "castração". O não dar conta de; não lidar com a "verdade", o "vazio" no lugar o câncer.

As diferentes maneiras de se reagir frente ao câncer, enquanto fenômeno multifacetado de explicações proporciona ao sujeito deparar-se com a condição da falta, com a angústia, e a condição imaginária, embora inconsistente é muitas vezes a alternativa para lidar com o sofrimento, podemos exemplificar com a busca do mítico (religião) que coloca a doença como uma provação divina na tentativa de dar um sentido, afinal é pelo qual a sociedade está familiarizada.

A psicanálise é capaz de entrar aí e reconhecer esse sujeito no contemporâneo e a forma como consegue tratar com o real. Nossa experiência clínica e hospitalar tem revelado que no processo de adoecimento de vários pacientes com câncer, alegam dor aguda ;revolta; medo; angústia da morte; culpa; agressividade ; desamparo; manipulação; perda de autonomia; desconfiança e conflitos com a sexualidade.

De acordo com a teoria Freudiana a formação do sintoma é um ressurgimento do recalcado, dessa forma seja físico, psíquico ou combinado o sintoma em si mesmo é o fracasso do recalcado, a falha do recalque.

O corpo é o veículo do sintoma não somete para as histéricas. O corpo veicula questões emocionais que causam sintomas, havendo uma fala literal do corpo através do sintoma, uma vez que a doença atravessa todos os sentidos e afeta o corpo, provocando patologias originadas pelo afeto.

A importância da escuta está na possibilidade do desabafo da angústia, do "vomito", do sentimento que alivia, por meio da associação livre do pensamento.

O saber médico não dá conta da doença física com reflexo psíquicos. Foi por meio da associação livre que Freud percebeu que havia algo mais alémd a patologia.

A função do sintoma é aliviar o conflito e, criar outro sintoma que se comunica com o anterior. O sintoma protege o sujeito, porém causa sofrimento. O retorno do recalcado são mensagens do sintoma, que pemanece ligado a idéia, à represnetação ideativa.

A psico-oncologia é a área do conhecimento psicológico da saúde aplicada aos cuidados dos pacientes com câncer, sua família,e os profissionais envolvidos no seu tratamento. Historicamente desde a antiguidade o câncer tem sido associado a estados emocionais; daí a clareza quanto a necessidade de combinar o tratamento médico deste com os cuidados psicológicos.

A dor significa algo que agride, machuca, é um sinal de algo ocorre de errado, perigo, ameaça. No entanto suas dimensões são variadas e transcendem a explicação física. Quanto maior a dor, maior o sofrimento (ansiedade, aflição, raiva, tristeza) que atravessa o indivíduo de toda forma e natureza; o fato é que a dor é vivenciada singularmente por cada um, não decorre de raça, sexo, suporte social, cultura; bem como nem sempre depende do que a cause.

No caso do câncer em especial, que denota a terminalidade; a morte, o manejo psicanalítico, e psicoterapêutico é um facilitador para a compreensão dos conflitos psíquicos, permitindo elaboração do luto; a perda psíquica originária da dor. A abordagem psicanalítica é incontestavelmente recurso para atuar no alívio da dor, auxiliar o sujeito a criar estratégias e recursos de enfrentamento da doença considerando que a dor está intimamente ligada ao conteúdo que o indivíduo carrega em si.

Psicanálise ao investigar o inconsciente e a relação com a causa do comportamento humano, integraliza a multidisciplinariedade no fazer da saúde convergindo para o bem-estar.

A psicanálise, possibilita ao sujeito o enfrentamento ao sofrimento, pela função do inconsciente, pelo material recalcado que, por retornar nessa experiência que o paciente oncológico tem frente à doença (Nasio, 1989).

Não se deve pensar a psicanálise apenas nas paredes de um consultório, é certo que sua origem é clínica, mas sua finalidade é propiciar ao sujeito o confronto com seu inconsciente, com suas pulsões, seus desejos, conscientizando-o de suas responsabilidades em relação a suas ações.

A imagem do corpo inconsciente do corpo, agora, no real, atingido por uma patologia, remete ao corpo fantasiado, ao lugar a emissão e recepção das emoções (Dolto, 1990), ligado a história pessoal de cada sujeito.

As pessoas que se veem diante do diagnóstico, padecem por vários níveis de stress e angústia. O medo da morte, a interrupção de planos e projetos, mudanças físicas e psíquicas, assim como as mudanças na vida social e estilo de vida são temáticas imprescindíveis a pessoa com câncer.

Segundo Laplanche e Pontalis (1988) a definição de luto é " Processo intrapsíquico, consecutivo à perda de um objeto de afeição, através do qual o indivíduo consegue dasapegar-se dele". É preciso que o paciente viva esse luto, fale da perda do desse corpo.

Considerando o disposto, abrimos um parêntese para registrar e observar que muitos mitos são criados quanto à pessoa portadora de um câncer, no tocante ao sofrimento, depressão, inacessibilidade, morte dolorosa, é cuidadoso vê que muitas convenção, e superstição interditam ao paciente de reconhecer-se, e a necessidade de um acompanhamento integral.

Certamente que algumas pessoas têm mais dificuldades que outras de receber um diagnóstico, daí essa desadaptação proporcionar uma depressão grave, em algum momento se enfrenta a tristeza e o pesar, mas não obstante venha fechar na condição psíquica patológica.

 

 

Referencias.

COUTINHO JORGE, Marco Antônio. Sexo e discurso em Freud e Lacan. v. 7. Transmissão da Psicanálise. Rio de janeiro: Editora, Zahar Editor, 1988.

DOLTO, Françoise. Introdução à obra de Françoise Dolto. v. 20. Transmissão da Psicanálise. Rio de janeiro: Editora, Zahar Editor, 1990.

LAPLANCHE, J & PONTALIS, J.B. Vocabulário de Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

FREUD, Sigmund (1914). Escritos sobre a psicologia do inconsciente. v I. À guisa de introdução ao Narcisismo. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

______. Análise Terminável e Interminável (1937) In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas, v. 23. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

GIMENES, M. G. G. Definição, foco de estudo e intervenção. In: CARVALHO, M. M. (Coord.). Introdução à psico-oncologia. São Paulo: Livro Pleno, 2003.

NASIO, Juan David. Lições sobre os 7 conceitos cruciais da Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1989.

ZAGO, M. M. F. Cuidado do paciente oncológico com dor crônica na ótica do enfermeiro. Rev. Latino-Am. Enfermagem. v. 9. nº. 4. 2001.

 

 

 

CRENÇA DE AUTOEFICÁCIA, MECANISMO CIRCUNDANTE AO PROCESSO DE AUTOESTIMA EM PESSOA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA ADQUIRIDA NA FASE ADULTA: UM ESTUDO DE CASO.

 

 

 

1. Ângela Maria Pereira Capilé da Silva.

 

2.Ivan Guarachi.

 

 

 

 

 

RESUMO: A relação da crença de autoeficácia no processo de construção da autoestima em pessoa que adquiriu deficiência física na fase adulta está relacionada com o tratamento que é dispensado ao deficiente. Comportamentos, cognições e habilidades sociais podem ser reinventados e aperfeiçoados. A ideia de que, no pós-trauma, o enfrentamento das mudanças físicas, sociais, econômicas e, consequentemente, laborais são obstáculos ao desenvolvimento normal foi desmistificada. O objetivo deste artigo é analisar a relação de crença de autoeficácia no processo de construção da autoestima em pessoa que adquiriu deficiência física na fase adulta e justifica-se pelo conhecimento que se espera do estudo de caso, de valor único e próprio, começando pela coleta de dados até a análise do fenômeno observado. Participaram da pesquisa dois paraplégicos, sendo um do sexo masculino, e um do sexo feminino; e um terceiro, do sexo feminino, com duas deficiências (antebraço direito e mama direita), todos estão deficientes a mais de três anos.

 

 

 

PALAVRAS-CHAVE: Crença de autoeficácia – Autoestima – Deficiência física adquirida – Adultez.

 

 

 

 

 

ABSTRACT: The relationshipofself-efficacybeliefin the process ofbuildingself-esteeminpeoplewho acquireddisabilityin adulthoodis associatedwith thetreatment givento thepoor. Behaviors, cognitionsandsocial skillscan bereinventedand improved. The idea that, in the post-trauma, coping withphysical changes, social, economic,and hencelaborare obstacles tonormal developmentwasdemystified. The objective of thispaper is to analyzethe relationshipofself-efficacybeliefin the process ofbuildingself-esteeminpeoplewho acquireddisabilityin adulthoodandis justified by theknowledgeexpected of thecase study, andownunique value, starting with thecollectiondatato theanalysisof the phenomenon observed. Participants weretwoparaplegics,one maleandone female, and a third, female, with twodeficiencies(right forearm andright breast),all aredisabledfor more thanthree years.

 


KEYWORDS:Beliefinself-efficacy-Self-Esteem-Physical disabilityacquired-Adulthood.

 

 

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

 

 

A deficiência física adquirida (decorrente depois do nascimento), além de causar sofrimento psíquico, causa uma mudança brusca na imagem corporal da pessoa. De um instante para o outro ela se vê com a imagem corporal alterada, e em vista disso precisa reestruturá-la.

 

O processo de reabilitação e desenvolvimento cognitivo inclui tarefas difíceis como a de incorporar a cadeira de rodas ou a prótese a sua imagem e aprender a interagir com pessoas que não possuem deficiência física. Sua construção deve respeitar essa nova condição.

 

Para readaptação, autoaceitação e aceitação por parte da sociedade, não basta a pessoa com deficiência adquirida contar com sofisticados equipamentos ou boas condições financeiras, ela necessita acreditar nas suas potencialidades.

 

Frente a essas informações, a pesquisadora buscou comprovar a hipótese de que uma das crenças que circundam esse processo é a crença de autoeficácia, que é o mecanismo capaz (suficiente) de levar a pessoa com deficiência adquirida na fase adulta a ter boa autoestima, é mecanismo que supera eventos incapacitantes e geram boa autoestima.

 

Os fatores cognitivos em torno das crenças de autoeficácia operam independente das situações contextuais no caso de deficiência adquirida na fase adulta.Comportamentos, cognições e habilidades sociais podem ser reinventados em um processo de melhoria da autoestima em pessoas com deficiência adquirida na fase adulta.

 

            Segundo Santos e Souza (2012), deficiência na maioria das vezes é visualizada como ponto principal de condição de incapacidade, quando na realidade não o é. Ser deficiente físico não quer dizer que essa pessoa seja incapaz em todos os segmentos da vida.

 

O objetivo geral deste artigo é analisar a relação de crença de autoeficácia no processo de construção da autoestima em pessoa que adquiriu deficiência física na fase adulta.

 

E para embasar esse objetivo surgem os objetivos específicos que investigaram o grau de autoeficácia e a estrutura cognitiva envolvidos na autoestima de pessoa que adquiriu deficiência física na fase adulta, averiguar como a crença de autoeficácia contribui para alteração dos fatores biopsicossociais da pessoa com deficiência adquirida na fase adulta e identificar quais comportamentos foram possivelmente alterados com a aquisição da deficiência e como eles influenciaram na autoestima.

 

Este artigo justifica-se pelo conhecimento que se espera do estudo de caso, de valor único e próprio, começando pela coleta de dados até a análise do fenômeno observado.

 

Nisbett e Watt (1978) sugerem que o estudo de caso seja entendido como “uma investigação sistemática de uma instância específica” e estapesquisa visa trazer informações sobre o esquema e a autoeficácia como mecanismos desencadeadores da autoestima (alta ou baixa) em pessoa com deficiência adquirida na fase adulta, coletando informações, relatos, dados e observações.

 

Um estudo de caso é utilizado como veículo para a compreensão e verificação de aspectos do comportamento humano a ser estudado no indivíduo com deficiência adquirida na fase adulta e visa contribuir com estudos de Psicologia Cognitiva Comportamental.

 

 

 

 

 

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

 

 

 

Segundo Doron e Parot (2007), deficiência é fato ou sentimento de que um órgão está funcionando aquém do esperado. Objetiva ou subjetivamente, a deficiência se distingue do déficit, cujas conotações etiológicas são mais radicais e as implicações mais perigosas. 

 

O conceito que se tem de deficiência é relativo às normas de uso, nível de desenvolvimento e a capacidade de tolerância do grupo a que pertence o indivíduo. Geralmente, distingue-se deficiência em grupos:

 

 

 

a) deficiência sensorial;

 

b) deficiência motora;

 

c) deficiência mental;

 

d) Deficiência resultante de doença crônica;

 

 

 

Relativamente à intensidade, pode se classificar como deficiência leve, média ou moderada e grave ou profunda.

 

A InternationalClassificationofimpairments, desabilitiesandhandcaps (ICDH), sendo sua tradução Classificação internacional de deficiências, incapacidades e desvantagens, considera as deficiências como manifestações agudas, segundo o modelo médico.

 

No Brasil, a Previdência Social, por meio do Decreto n. 3048, Capítulo I, artigo 3º, no seu Regulamento acresce a deferência permanente, distinguindo-a como “aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probidade que se altere apesar dos novos tratamentos” e por meio do Decreto nº 5.296, de 2004, da Presidência da República, artigo 5º, detalhe e enumera categorias de deficiência física (D.O.U.- 03/12/04, P. 5).

 

 

 

[...]     

 

§1º Considera-se, para os efeitos deste Decreto:

 

I - pessoa portadora de deficiência, além daquelas previstas na Lei no 10.690, de 16 de junho de 2003 , a que possui limitação ou incapacidade para o desempenho de atividade e se enquadra nas seguintes categorias:

 

 

 

a) deficiência física: alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções;

 

b) deficiência auditiva: perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz;

 

c) deficiência visual: cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60º; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores.

 

d) deficiência mental: funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, [...].(Decreto nº 5.296)

 

 

 

Corroborando esses entendimentos, o CID 10, assim como a OMS, entende que deficiência física é a restrição da capacidade motora, mental ou sensorial, definição legal de deficiente físico.

 

Nesse cenário de deficiência, aparecem as crenças, que são ideias e percepções, absolutas e verdadeiras, da pessoa, segundo o seu ponto de vista. São formadas a partir da ótica que a pessoa tem de si e do mundo que a cerca. Por meio de nossas crenças é que olhamos para as situações da vida.

 

As crenças têm origem em muitas fontes, como por exemplo, na nossa educação, no exemplo de pessoas que marcaram nossas vidas, por traumas passados, experiências repetidas e também pela cultura onde vivemos ou trabalhamos.

 

Ao estabelecermos crenças, adquirimos níveis de pensamentos que poderão reforçar as crenças que os originam e essas crenças tendem a repetir-se. Crenças são divididas em central e intermediária.

 

Desde a infância, é possível desenvolver ideias negativas, distorcidas da realidade, equivocadas pela percepção que temos sobre os eventos da vida. Tais ideias são fixadas em nossa mente e incorporadas como verdades absolutas, causando sofrimento psíquico. As crenças centrais podem ser, DESAMOR e DESVALOR.  Segundo Rangé, apud Alvarenga e Souza:

 

 

 

[...]

 

As crenças centrais constituem o nível mais profundo da estrutura cognitiva e são compostas por ideias absolutistas, rígidas e globais que um indivíduo tem sobre si mesmo. São ideias e conceitos a respeito de nós mesmos, das pessoas e do mundo. São aceitas passivamente, sem grandes questionamentos, são mantidas e reforçadas sistematicamente. (RANGÉ, 2001).

 

 

 

As crenças intermediárias estão relacionadas a vários aspectos da vida que funcionam como pano de fundo para atitudes e regras. Elas são mais flexíveis, portanto de mais fácil tratamento que as crenças centrais. Apesar dessa diferença, elas se conectam com as crenças centrais e existem seguindo a "lógica" destas últimas.

 

Segundo Bandura, a crença de “autoeficácia é um julgamento sobre a própria capacidade de conseguir um bom desempenho ou resultado, uma sensação de adequação e eficiência em tratar dos problemas da vida” e capacidade de administrarsituações adversas na vida.

 

Superar obstáculos, buscar desafios e manter um bom nível de confiança na própria capacidade é a meta de pessoas com crença de autoeficácia, o que não acontece com pessoas de baixa autoeficácia, pois se sentem incapazes de realizar alguma coisa mais específica e muitas vezes desistem de tentar resolver os problemas quando as circunstancias os levam ao fracasso.

 

Para Bandura (1986), os julgamentos de autoeficácia atuam como mediadores entre as reais capacidades, que são as aptidões, conhecimentos e habilidades, e o resultado obtido. Esses fatores, por si sós, não produzirão resultados esperados, a menos que ocorra a mediação da crença de autoeficácia.

 

Relativamente à forma como se desenvolve a autoeficácia, Bandura menciona que ambientes proporcionam oportunidades para adquirir experiência e percepção de autoeficácia. Nesse aspecto, a família é o marco principal na aprendizagem de autoeficácia; seguido da escola como ambiente básico para a manutenção e validação social desta.

 

Outro fator importante a considerar são as fases da vida, adolescência e vida adulta, nas quais os desafios e redefinições de metas e projetos dependem do senso desta. Para as pessoas que possuem autoeficácia baixa, Bandura recomenda três passos:

 

1. Trabalhar a auto-observação - conhecer-se e ter certeza de ter uma visão exata de seu comportamento;

 

2. Trabalhar os padrões - certificar-se de que os padrões que a pessoa estabeleceu não sejam inatingíveis. Não se destinar ao fracasso. Padrões muitos baixos também não têm sentido;

 

3. Trabalhar a auto resposta – não se castigar. Celebrar as vitórias e não se perder sobre os fracassos. Portanto, quanto maior a autoeficácia maior o esforço e a persistência. E nas situações de escolha, a autoeficácia influi na decisão de fazer ou não alguma coisa. Quanto à produção do comportamento, afeta a motivação, mas não cria novas habilidades.

 

Atrelada à autoeficácia está a autoestima, postura que cada pessoa tem em relação a si mesma, compreende os aspectos cognitivo, emotivo e comportamental. Esses aspectos englobam vida afetiva e social, profissão, moralidade, como são sentidos os conflitos e confrontos, tais como hostilidade, afeto e discriminações, bem como o comportamento diante da satisfação de suas necessidades básicas.

 

A autoestima pode ser construída como uma característica permanente de personalidade (traço de autoestima) ou como uma condição psicológica temporária (estado de autoestima).

 

 

 

 

 

METODOLOGIA

 

 

 

Os instrumentos de pesquisa para desenvolvimento deste artigo foram as entrevistas semiestruturadas, protocolo de autoeficácia, registro diário de pensamento disfuncional e análise do pensamento.

 

A entrevista é o instrumento adequado para se obter dados necessários para o desenvolvimento de projeto de pesquisa e checagem das hipóteses, pela riqueza de informações que ela proporciona ao trabalho. As entrevistas foram aplicadas nos termos do que preconiza GIL, 1999:

 

 

 

[...] técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que interessam à investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de interação social. Mais especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação. (GIL, 1999, p. 117).

 

 

 

O protocolo de autoeficácia utilizado foi adaptado do modelo utilizado pelas professoras Roberta Azzi e SouelyPolydoro, quando da organização do livro Auto eficácia em diferentes contextos.

 

A técnica de Registro Diário de Pensamento Disfuncional tem a função de incentivar o a pessoa humana a reconhecer pensamentos automáticos disfuncionais, erros cognitivos, observar evidências e gerar possíveis alternativas racionais.Esta técnica leva também a pessoa a observar os resultados de seus esforços para mudar pensamentos disfuncionais em pensamentos funcionais.

 

 Este artigo destina-se a expor uma abordagem compreensiva e interpretativa, por meio da Psicologia Cognitiva Comportamental.

 

O método científico utilizado foi o hipotético-dedutivo, com ênfase na descrição de relatos, e por não se tratar de um estudo de coleta de dados somente escritos, e nem de dados manipuláveis, optou-se pelo direcionamento de um estudo de caso para a realização da pesquisa acerca do esquema e autoeficácia e suas relações com a autoestima.   

 

O estudo de caso, por meio da descrição, permitirá atermo-nos em um aspecto ou situação específica e identificar aspectos da autoestima, tendo em vista que são descrições detalhadas de indivíduos ou eventos. O sujeito estudado pode ser, nessa abordagem, intensamente entrevistado, bem como analisados aspectos do comportamento.

 

A coleta de dados consistiu em entrevistas (semiestruturadas), observações cognitivas comportamentais do indivíduo, por meio da análise do pensamento.

 

A pesquisa foi desenvolvida respeitando às normas éticas, bem como, se necessário, ser submetida ao crivo do comitê de ética da ILES/ULBRA. Os participantes deste estudo receberam um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TECLE), os quais foram devidamente assinados por seus destinatários e responsáveis. No termo constam os aspectos relativos ao estudo, tais como, objetivo, caráter de voluntariedade da participação de tais entes para aderir e/ou sair do estudo, benefícios e possíveis riscos, procedimentos de avaliação, procedimentos, entre outros.

 

 

 

 

 

PESQUISA

 

 

 

Participaram da pesquisa dois paraplégicos, sendo um do sexo masculino, e um do sexo feminino; e um terceiro, do sexo feminino, com duas deficiências (antebraço direito e mama direita).

 

A entrevistada I, sexo feminino, funcionária pública estadual, nível superior, casada, deficiente há trinta e um anos, ao ficar deficiente pela primeira vez, quando da amputação do antebraço, aos 17 anos, diz ter se sentido inútil, pois lhe tiraram a possibilidade de experienciar situações novas.

 

 

 

[...] “não me deixavam fazer nada...o que fiz foi estudar mais.”

 

“...fiz prova oral e três meses depois a nota foi melhor...”

 

“Pensei que tinha parado tudo...não sabia como ia trabalhar. Queriam que eu fosse médica, mas não sabia como operar...

 

[...] “Só fui melhorar isso daí quando comecei trabalhar, ainda não tinha superado tudo”.(sic)

 

 

 

Após a segunda mutilação, há 5 meses, é possível observar que a superação aconteceu de forma eficiente, pois o senso de autoeficácia já havia sido instalado anteriormente. A autoestima dessa entrevistada demonstra-se elevada:

 

[...]

 

“eu até casei..rsrsrsrs   ”trabalhei 25 anos, nunca cheguei atrasada.” ... ”quando eu soube da doença, carcinoma de seio, fiquei tranquila, mas olhar no espelho é um choque.

 

“senti apoio do marido, não tive dúvida dele em nenhum momento”.

 

“ Filhos eu não tive por que achei que não dava conta ...” (sic)

 

 

 

O entrevistado II, sexo masculino, 21 anos, solteiro, desempregado, cursando nível médio, mora com os pais, deficiente há três anos, absteve-se de falar muito. Preferiu omitir detalhes da vida cotidiana e funções cognitivas pós-trauma, mantendo-se inerte.

 

Alguns autores afirmam que a incapacidade de falar pode ter vários significados como ficar paralisado pela ansiedade, esquecer-se de algo, entre outros.

 

Na análise semântica (CHARADEAU & MAINGUENEAU, 2004) o medo é a crença na avaliação negativa que pode ser mais facilmente desafiada e testada.

 

Nas parcas falas, foi possível observar a baixa autoestima e a descrença na capacidade de retomar os afazeres da vida:“eu penso em me matar todo dia, já tentei duas vezes” ‘pensei que tinha acabado tudo...”   “sou frio, não tenho sentimento. ..acho melhor morrer. (sic).

 

A entrevistada III, sexo feminino, descasada, funcionária pública municipal, nível superior, mora sozinha, deficiente há vinte oito anos, foi sutil em afirmar que os cuidados iniciais com o deficiente, em fase adulta, são a mola propulsora para adaptaçãoe desenvolvimento do senso de autoeficácia, senão vejamos:

 

 

 

“...eu estava na zona de conforto, não queria me vestir sozinha...estava querendo chamar atenção...sem brinco, sem batom, sem perfume... a internação fora do estado foi uma escola da vida.”

 

[...] recebi treinamento na piscina..fui jogada. Depois disso vi que não mudou nada, o que mudou foi a forma de nadar.” (sic)

 

 

 

Corroborando com esse relato, ela menciona que: “O primeiro pensamento foi... acabou tudo.. não sou mais sexy, não tenho mais bumbum... não me via atraente”.(sic)

 

Em fase posterior, a mesma entrevistada reconhece que “estava na zona de conforto, não queria me vestir sozinha... estava querendo chamar atenção... sem brinco, sem batom, sem perfume... a internação fora foi uma escola da vida.”. “O pensamento era eu não sou mais atraente, as pessoas não querem saber do cérebro, querem saber da beleza.” (sic)

 

A entrevistada III foi sutil em afirmar que os cuidados iniciais com o deficiente, em fase adulta, são a mola propulsora para adaptaçãoe desenvolvimento do senso de autoeficácia.

 

Relativamente ao protocolo de autoeficácia, os entrevistados I e III desta pesquisa mantiveram coerência entre as respostas e a expressão do pensamento, porém o entrevistado II se contradisse em 80 das respostas, afirmando, por exemplo, ser para tranquilo persistir em seus objetivos e poder resolver a maioria dos problemas, após ter mencionado “o que eu tinha pra curtir, eu já curti... eu penso em me matar todo dia (sic).

 

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

 

 

Estar bem, querer viver é uma estratégia subjetiva que leva à boa autoestima e depende da avaliação que a pessoa faz sobre sua própria vida. Essa avaliação pode ser feita mediante a possibilidade ou impossibilidade de realizar funções, nas quais estão incluídos estados agradáveis e desagradáveis e a busca de equilíbrio entre eles.

 

Os as pessoas quando fazem julgamentos em relação a si próprios utilizam termos vagos, generalistas e absolutistas. Isso faz com que não percebam os comportamentos que geram resultados desagradáveis, porém ao recuperarem a autoestima são capazes de um novo repertório de comportamentos mais socialmente adaptados, isto é, a capacidade de emitir respostas eficazes e adequadas a situações específicas: “comecei a enxergar que quase tudo é possível. “...meu chefe era exigente e não fazia distinção para minha deficiência”. (sic)

 

Por meio de entrevistas semiestruturada, deduziu-se que o indivíduo com deficiência adquirida na fase adulta vivenciaram experiências polares. Fatores como protecionismo exagerado e falta de condições financeiras indicaram a maneira como os entrevistados enfrentam tais pressões.

 

Estressores, no transcorrer do curso de vida, determinaram sua capacidade de adaptação e recuperação; em outras palavras, sua resiliência, como enfatiza Bandura (1986) “ o bem-estar e as realizações humanas requerem senso de eficácia resiliente, pois o cotidiano interpõe vários obstáculos ao indivíduo”.

 

Para os entrevistados I e III, no pós-trauma, onde não houve superproteção, o enfrentamento das mudanças físicas, sociais, econômicas e, consequentemente, laborais, não foram obstáculos ao desenvolvimento normal.

 

O constructo autoeficácia possibilitou a esses entrevistados executar tarefas básicas e diárias, com significância quase imperceptível para os não deficientes, mas de fundamental importância para os amputados, conforme relato da entrevistada I: “esse chefe foi divisor de águas na minha vida... Eu não sabia que era inteligente e ele me mostrou.” (sic).

 

O entrevistado número II registra em entrevista a baixa autoestima e os sinais depressivos ao falar de seus planos para o futuro, ou seja pensamentos de morte e de não restar nada mais para fazer.

 

Esta pesquisa atingiu seu objetivo ao analisar a relação de crença de autoeficácia com a boa autoestima, bem como que pessoas com senso de autoeficácia conseguem ter boa estrutura cognitiva e vida social ativa.

 

No mesmo contexto, as hipóteses foram comprovadas, exceto no que se refere a fatores cognitivos em torno da autoeficácia operarem independentemente de situações contextuais, pois como relata a entrevistada I, foi necessário ser jogada na piscina para perceber que tinha condições de aprender a nadar mesmo sendo deficiente.

 

Não se pode defender que as crenças de autoeficácia sejam o único fator a influenciar o desempenho e nem que seja o fator mais importante para a motivação. Além disso, as crenças de autoeficácia não suprem lacunas de conhecimentos ou habilidades ou a ausência de capacidade real, mas é possível verificar que quem tem senso de autoeficácia é capaz de se relacionar bem consigo próprio e com os outros.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

 

 

 

ABNT – Associação Brasileira de Normas e Técnicas, 2011.

 

Acrescente-se na bibliografia

 

ALVARENGA, Rita e * Fernanda Pasquoto de Souza. COMO APRENDER A IDENTIFICAR AS CRENÇAS CENTRAIS. Ulbra/Guaíba, 2010.,

 

AZZI, R.G. e POLYDORO, S.A.J. (Orgs.)Auto-eficácia em diferentes contextos. Campinas- SP: Alínea, 2006.

 

BANDURA, Albert. Modificação do comportamento. Rio de Janeiro: Interamericana, 1986.

 

BREAKWEL, Glynis M. (et al). Métodos de pesquisa em Psicologia. tradução Felipe rangelElizalde; revisão técnica: Vitor GeraldiHasse. - 3ª ed. - Porto Alegre: Artmed, 2010.

 

CHARADEAU, Patric; MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de Análise Semântica. São Paulo. Contexto, 2004.

 

 

 

DIENER, E. (2000). Subjective well-being: the science of happiness and a proposal for a national index. American Psychologist, 55 (1), 34-43.

 

DORON, Roland e PAROT, Françoise. Dicionário de psicologia. São Paulo: Ática. 2007

 

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.

 

NISBETT, J; Watt, J. Case Study.Redguide 26: Guides in Education Research. Universityof Nottingham SchollofEducation, 1978.

 

TEIXEIRA, Ângela Maria. Vidas reviradas – o acontecer humano diante da deficiência adquirida na fase adulta. Rio de Janeiro: Juruá, 2010.

 

SANTOS, Sônia Mendes dose Clícia Henrique de Souza.O ESTUDO DA SEXUALIDADE DA PESSOA CADEIRANTE EM PORTO VELHO-RO: SUAS VIVÊNCIAS E LIMITAÇÕES. Ulbra/Porto Velho, 2012

 

STROCCHI, Maria Cristina. Autoestima: se não amas a ti mesmo, quem te amará. Trad. Francisco Morás. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.

 

 

 

Sites Pesquisados

 

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Disponível em: <https://pt.scribd.com/doc/19843063/Analise-das-crencas-de-eficacia-de-professores-de-fisica-do-ensino-medio.%20Acesso%20em%2012/09/2012"Analise-das-crencas-de-eficacia-de-professores-de-fisica-do-ensino-medioHYPERLINK "https://pt.scribd.com/doc/19843063/Analise-das-crencas-de-eficacia-de-professores-de-fisica-do-ensino-medio.%20Acesso%20em%2012/09/2012>. Acesso em 12/09/2012.

 

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm Acesso em 12/10/2012.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

APÊNDICE

 

 

 

ROTEIRO PARA ENTREVISTA

 

 

 

Caso nº_________.

 

1. Idade: _________________________________________________________

 

2. Profissão:_________________________________________________________

 

3. Grau de escolaridade: _______________________________________________

 

4. Quantas pessoas compõe a família: ____________________________________

 

5. Na ordem de nascimento dos filhos, que número você ocupa: ________________

 

6. Tipo de moradia: ___________________________________________________

 

7. Que tipo de deficiência vocêpossui: ____________________________________

 

8. Antes da deficiência, como era a suarotina: _____________________________

 

9. Como foi o período pós-trauma (logo após adquirir a deficiência: ___________________________________________________________________

 

10. Que atividades, após a deficiência, você deixou de realizar: ___________________________________________________________________

 

11. Que tipo de assistência você teve para readaptação de suas funções: ___________________________________________________________________

 

12. Hoje, você sente dificuldade em desempenhar alguma função?

 

(   ) sim         (   ) não

 

13. Quais? __________________________________________________________

 

14. Que barreiras você enfrenta após a deficiência?

 

___________________________________________________________________

 

15. Como você se sente em relação à vida?

 

___________________________________________________________________

 

16. Quais seus planos para o futuro? 

 

___________________________________________________________________

 

ESCALA DE AUTOPERCEPÇÃO DE AUTOEFICÁCIA

 

 

 

Este questionário tem como objetivo avaliar o quanto você se sente capaz de lidar com as dificuldades do seu dia-a-dia.

 

 

 

Leia com atenção cada afirmativa e circule a sua opção de acordo com a escala abaixo:

 

 

 

1

2

3

4

Não verdadeiro

 

Pouco verdadeiro

verdadeiro

 

Totalmente

verdadeiro

 

 

 

 

 

 

1.

 

Sempre posso resolver os problemas difíceis se me empenhar bastante.

12  3  4

 

 

 

 

2.

 

Se alguém se opõe a mim, eu posso encontrar a maneira de obter o que quero.

12  3  4

 

 

 

 

3.

 

É tranquilo para eu persistir em meus objetivos até alcançar as minhas metas.

12  3  4

 

 

 

 

4.

 

Estou seguro de que eu poderia lidar de maneira eficiente com eventos inesperados

12  3  4

 

 

 

 

5

 

Graças às minhas qualidades e talento, posso superar situações imprevistas

12  3  4

 

 

6.

 

Posso resolver a maioria dos problemas, se me esforço o necessário.

12  3  4

 

 

 

 

7.

 

Posso permanecer calmo(a) quando enfrento dificuldades, porque confio no meu jogo de cintura.

 12  3  4

 

 

 

 

8.

 

Quando enfrento uma situação difícil, geralmente eu tenho ideia do que devo fazer.

12  3  4

 

 

 

 

9.

 

Venha o que vier, geralmente sou capaz de lidar com isto.

12  3  4

 

 

 

10.

 

Quando tenho um problema pela frente, geralmente me ocorrem várias alternativas de como resolvê-lo.

12  3  4

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


ÂNGELA CAPILÉ SILVA
Psicóloga
CRP 20-5459



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